quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

PROJETO SEMENTE [2005]


O ano de 2005 foi especialmente interessante por alguns motivos: Eu tinha acabado de concluir meu curso de Licenciatura em Música pela Universidade Estadual do Pará. Eu estava dando aulas particulares de violino e também no Conservatório Carlos Gomes como estagiário. Com isso, fiquei com o tempo relativamente livre durante a semana e com uma graninha boa para investir em coisas minhas.
O que na verdade eu quero enfatizar é minhas atividades na igreja. Esse ano eu era líder da equipe de músicas e presidente do departamento de jovens. Junto com alguns amigos (Jônatas, Cristiane, Vanessa e Eude) começamos a trabalhar na idéia de realizarmos uma viagem missionária de curto período durante as férias. Já tínhamos em vista o campo indígena. No ano anterior eu havia visitado Barra do Corda no Maranhão para fazer pesquisa de campo entre os índios guajajara para obter material para o meu TCC da faculdade. Durante o período que passei ali, supervisionado e orientado pelo missionário Benedito Barbosa, sonhamos com a possibilidade de haver uma equipe de jovens desenvolvendo um trabalho entre os indígenas da região. Lembro perfeitamente de uma de nossas viagens noturnas da aldeia pra cidade quando conversávamos sobre o assunto, imaginando como seria bom se tudo aquilo se tornasse realidade.
Cris, Eude, Héber, Vanessa e Jônatas
Com isso, já tínhamos um destino para nossa empreitada. Entramos em contato com o secretário executivo da missão que trabalhava com aqueles povos e com o missionário de campo responsável pelo trabalho, o já referido Benedito Barbosa, ou Bené. Aquela agência missionário tinha um projeto semelhante àquele que estávamos querendo realizar, mas ainda não tinha a estrutura montada para a primeira equipe. Então aceitamos o desafio de participar do Projeto Semente. Tendo legalizado esses detalhes passamos a correr atrás do nossos sustento pra viagem. Precisávamos ter o dinheiro para as passagens de ônibus até o maranhão, hospedagem, e alimentação. Observando todos esses gastos, observamos que a melhor maneira de economizar seria levando a nossa alimentação na viagem, assim, as pessoas poderiam contribuir com alimentos ao invés de dinheiro. Mas pense numa mala pesaaada com um monte de pacote de arroz, feijão, macarrão, farinha...
Em fevereiro de 2005, com todas as malas prontas e os preparativos arranjados partimos para Barra do Corda numa noite de domingo depois de termos sidos devidamente enviados pelas nossas igrejas. Chegando ali, nos hospedamos por alguns dias na casa do Bené pra planejar as atividades do projeto. Nós havíamos levado um projetor datashow, para passar o filme “O Peregrino”. Mas para usarmos na aldeia, até então, sem energia elétrica era necessário um tanto de parafernália (conversor, adaptador, estabilizador...) pra ligá-lo na bateria da toyta. Diversas vezes, quando nossa parafernália falhava no meio da projeção, enquanto Jõnatas e eu tentávamos arrumar, as meninas ficavam em oração. Ninguém queria que a lâmpada do projetor, caríssima por sinal, queimasse enquanto estávamos de posse. Sempre que voltava a funcionar a frase com sotaque ribeirinho, que ouvíamos do Jônatas era: “É Tu que é o Bããão Senhor! Se num é Tú quem é então?” Foi impressionante como essa frase se fez presente várias vezes durante a viagem. Não só em ocasiões em que falhava o projetor, mas em vários outros momentos onde víamos a ação de Deus.
Noções de higiene bucal
Nossas atividades em todas as aldeias que visitamos eram de evangelismo de crianças, as meninas contavam histórias, cantavam e brincavam com elas enquanto Jônatas, Bené e eu conversávamos com os adultos da aldeia. Também passávamos o filme “O Peregrino” a noite. Esse filme foi escolhido por passar a mensagem do evangelho de forma criativa e simbólica, muito semelhante à maneira dos indígenas de ensinar suas crianças. Um dos eventos que nos marcaram bastante, pelo menos a mim e ao Jônatas que estávamos presentes, ocorreu assim que chegamos na aldeia onde ficaríamos. O Bené estava conversando com um dos indígenas perguntando como estavam. Ele respondeu: “Ah Bené, ninguém cuida da gente aqui na aldeia, estamos igual animal sem dono. Precisamos de gente que nos ensine a bíblia” Essa frase tem ecoado em nossas mentes, sempre que nos lembramos dessa viagem.
Também realizamos alguns trabalhos sociais. Como a Cristiane estava estudando odontologia aproveitamos para fazer um programa de higiente bucal para as crianças. Sob a supervisão da Cris distribuíamos as escovas e pastas de dente, e orientávamos os curumins mostrando a maneira correta de escovar os dentes. Também dirigíamos os cultos nas aldeias onde já haviam igrejas indígenas formadas.
Nossa base era numa das maiores aldeias guajajara da região. Ali nós dormíamos e nos alimentávamos e então partíamos para outras aldeias vizinhas para fazer nossos trabalhos. Além disso, esta aldeia foi uma das primeiras alcançadas pela missão e os missionários viveram ali por muitos anos. Mas nem tudo foram flores. Certa tarde, eu senti um desejo muito grande de alcançarmos aldeias mais afastadas do que aquela onde nos encontrávamos que ainda não haviam sido tão evangelizadas. Apesar das recomendações do Bené de esperarmos o dia seguinte, eu (meio que) forcei a galera a aceitar a idéia de partirmos logo. Pra quê!
Mulheres ajudando a desatolar o carro
Carregamos a Toyota e pegamos estrada... muito ruim por sinal. Quando estava quase anoitecendo, estávamos trilhando uma estrada com duas valas enormes em baixo dos pneus. Como era época de chuva, o local exato da estrada por onde passavam os pneus dos carros que transitavam ali, estava cada vez mais desgastado e profundos, formando um grande monte de terra bem no meio da estrada. Foi bem nesse local que a Toyota encepou. Ela passou com as rodas exatamente nas valas da estrada e como o amontoado de terra entre as valas era muito alto, nosso carro ficou encalhado, sem poder ir para frente ou para trás. O trabalho para tirar de lá foi enorme. Tivemos que cavar em baixo do carro, amarra-lo com cordas e cabos de aço. Depois de muito esforço conseguimos e voltamos para aldeia onde estávamos antes. No dia seguinte, retomamos o mesmo caminho, mas paramos antes do local avariado e seguimos a pé pelos menos 2 km até o nosso destino. O que importa é que o evangelho foi pregado!
Bené depois de desatolar a Toyota
Também tiramos algum tempo para o lazer. Toda a equipe foi com o Bené e sua família para uma cachoeira do rio Corda localizada dentro de uma das aldeias que ele já havia feito contato. Foi um dia muito gostoso de descanso e brincadeiras. Tomamos banho na represa e relaxamos nas águas geladas do rio Corda. Numa das tardes estávamos descansando em nossas redes, debaixo da cobertura do templo da igreja na aldeia onde fizemos nossa base. Ali, o Jônatas pegou o violão e começou a tocar uma música linda com letra bucólica, falando de uma cidade atrás de um monte. A música era “Casinha” de Janires. Enquanto ele cantava e tocava eu imaginava as cenas descritas pela música. Pra mim aquele foi um belo e curto momento de uma grande amizade interpretada pelo som de uma canção. Na última noite do nosso projeto saímos todos juntos para comermos numa pizzaria.
Gostamos tanto da viagem de fevereiro que em julho do mesmo ano, decidimos repetir a dose. A nossa equipe de 5 pessoas (Jônatas, Héber, Vanessa, Eude e Cristiane) fomos para a região do Arame, no maranhão trabalhar com o mesmo povo indígena, mas sob a supervisão de outros missionários da mesma missão que tínhamos ido em fevereiro.
Esta segunda edição do Projeto Semente foi igualmente interessante. Os missionários que nos hospedaram foram Bron Hewitt e o casal Francisco e Damaris. Também passamos 15 dias ali, no entanto, os gastos com a viagem incluíam o aluguel de uma D-20 pois os missionários não tinham condução própria para toda nossa equipe ir. Estivemos ali no período frio e como a cidade era rodeada de montes, o clima ficava bastante ameno durante as manhãs. Fizemos trabalhos com crianças e sobre saúde bucal também. Dessa vez não ficamos morando dentro da aldeia, nós fazíamos viagens para lá todos os dias, e voltávamos para dormir na casa dos missionários.
Usando os enfeites de uma festa tradicional indígena
Ao final do período ali no Arame decidimos prolongar um pouco mais a nossa estadia no Maranhão e rumamos para Barra do Corda para ver o Benedito e sua família e matarmos as saudades deles.
O Projeto Semente nos proporcionou viagens sensacionais que esperamos nunca esquecer. Nossa visão do ministério mudou. Todos nós que participamos tínhamos chamado missionário. Esta experiência serviu para observarmos de perto a realidade do campo e a compreender que a vida missionária, se estamos dispostos a vivê-la, é algo que deve ser levado muito seriamente. Acima de tudo, percebemos como Deus é glorificado através do ministério de pessoas humildes que se dispõe a ser usadas por Ele.

sábado, 27 de novembro de 2010

VIAGEM MISSIONÁRIA DOS JOVENS: SÃO SEBASTIÃO DA BOA VISTA [2004]

No ano de 2004 eu fazia parte da diretoria do grupo de jovens da Igreja Cristã Evangélica do Marco. O Edi e a Lene eram os nossos conselheiros e junto com eles eu havia sondado a possibilidade de fazermos uma viagem missionária com o pessoal. A idéia era juntar o nosso grupo e ir para alguma localidade falar do amor de Deus. Tivemos a notícia de que o grupo de jovens da igreja de São Sebastião da Boa Vista estava muito enfraquecido e que precisava de apoio para voltar a trabalhar bem. Decidimos então que aquela cidade na ilha do Marajó seria o nosso destino. Nosso objetivo naquela viagem seria fortalecer os jovens daquela igreja.
Convidamos alguns jovens da Igreja Cristã Evangélica da Cidade Nova 5 e marcamos a viagem para os dias 28/out a 02/Nov para aproveitar o feriado de finados. Junto conosco foram 3 casais de responsáveis, o Edi e a Lene, que eram os conselheiros do nosso grupo. O pr. Barral e sua esposa Socorro e o casal de missionários José Afonso e Geisa. Ao todo nossa equipe contava com 23 participantes sendo 12 da Igreja do Marco, 5 da Igreja da Cidade Nova 5 e 6 líderes.
Viajamos de barco a tarde e a noite toda, foram mais de 12h de viagem até chegar em São Sebastião da Boa Vista. O barco aportou às 3h da manhã e fomos recebidos com foguetes e rojões pelo pessoal da igreja que nos esperava no porto. Parecia que eles estavam esperando uma super comitiva de pessoas importantes. Hahah, foi legal a experiência.
descansando depois de um bom almoço com açai e camarão
Nossa programação da viagem consistia em visitas aos jovens da igreja que estavam meio dispersos e desanimados, palestras para os departamentos da Igreja Cristã Evangélica de São Sebastião da Boa Vista, programação com crianças, evangelismo e projeção do Filme Jesus. Abaixo eu detalho cada um destes eventos:
Visitação - Nosso objetivo com essas visitas era firmar laços de amizade e enconrajá-los a se manterem firmes no Senhor e em Seu trabalho, mostrando que a presença deles na igreja e nas reuniões de jovens era importante. Nós nos dividimos em várias duplas, e cada dupla era acompanhada por um jovem da igreja de São Sebastião. Eles fizeram uma lista de quem podia e queria ser visitado e saímos juntos. Como era uma cidade pequena, não houve problema em andar de uma casa para outra.
dando palestra pra Eq. de Música
Palestras – Nós separamos duas manhãs do nosso tempo ali para dar palestras para os irmãos daquela igreja. As palestras foram para a Equipe de Música (Héber e Eude), para o departamento infantil (Cristiane e Vanessa), para os jovens da igreja (Edi e Lene) e para os adultos (Pr. Barral e José Afonso).

saindo pro evangelismo
quase mil pessoas assistindo o filme Jesus no Bumbódromo
Evangelismo e Filme Jesus – na tarde do 3º dia todo o grupo saiu para fazer evangelismo pessoal com quem passava na rua e também para convidar para a projeção do Filme Jesus que faríamos logo a noite. O local escolhido para passar o filme deveria comportar muita gente, e foi-nos oferecido o bumbódromo da cidade. O bumbódromo era o local onde se fazia a Festa do  Boi Bumbá e todos sabiam aonde ficava. Era um bom ponto de referência. Na hora marcada começamos a arrumar a projeção enquanto as pessoas chegavam. O filme foi passado e fizemos um cálculo onde contamos aproximadamente 1000 pessoas presentes assistindo o filme. No final nós abordamos algumas pessoas que se mostraram interessadas e expomos o plano de salvação a elas.
Dando uma palavra de agradecimento
 Dia de Lazer – no nosso último dia da viagem nós planejamos um tirar um dia de lazer para descansar do trabalho e aproveitar mais a convivência tanto com os jovens daquela igreja quanto com aqueles que nós visitamos no primeiro dia. Todos nós fomos para uma ilha próxima à cidade. Ali tivemos a oportunidade de expressar nossa gratidão pela maneira como eles nos receberam. Também ouvimos uma breve meditação com o Edi, e tiramos o resto do dia pra brincar, conversar e descansar.
Voltamos cansados, mas com a alegria de ter investido nosso esforço e nossas forças na edificação de jovens e na evangelização de pessoas que não conheciam a Deus. Vale a pena o cansaço quando é por motivos que nos trarão resultados eternos.
despedida no barco

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Projeto Moçambique - Março/2003

Fiquei conhecendo o Movimento Estudantil Alfa e Ômega em 2002 quando estudava na UEPA (Universidade do Estado do Pará).  Durante aqueles anos participei do Alfa e Ômega e organizei, junto com alguns amigos, um grupo de estudos bíblicos e oração com os universitários, assunto já comentado anteriormente neste espaço. Um dos objetivos do Alfa e Ômega era levar o Movimento para universidades que ainda não tinha, para isso eram organizados Projetos Missionários Nacionais (que alcançava as Universidades do Brasil) e Internacionais (alcançando universidades de outros países).

Num dos Congresso do Alfa e Ômega que fui fiquei desafiado a participar do Projeto Moçambique que seria realizado em março de 2003 na Universidade Eduardo Mondlane em Maputo, capital de Moçambique. Fiquei muito encorajado a participar e voltei do congresso empolgado com essa possibilidade. Contei para os meus pais e eles me apoiaram, me passaram seus contatos. Escrevi uma carta de divulgação e Deus me forneceu o sustento de 2.000,00 dólares que eram necessários para a despesa da viagem de 30 dias.

No dia marcado saí de Belém para me encontrar no Rio de Janeiro com os outros universitários do Alfa e Ômega que iriam participar do Projeto Moçambique. Nossa equipe era formada pelos missionários da Cruzada Estudantil, Nilson, Bill, Erica Ribeiro e Cristobel e pelos estudantes Cíntia Couto, Érica Reis, Osmar, Lucas, Savana, Sabrina, Giovanna, Joel, Milena, Raquel (todos esses do Rio de Janeiro), Cyntia Nascimento e Wladia (de Fortaleza) e eu de Belém. Durante o mês do projeto foi-nos dada a tarefa de fazer o devocional todos os dias no livro de Atos e ler o livro “Corações Ardentes” de Sammy Tippit, também aproveitei pra ler, por minha conta, o livro “O Fator Melquisedeque” de Don Richardson. Foram leituras muito edificantes.

Nosso trabalho ali consistia basicamente em fazer quebra-gelos na Universidade, impactos evangelísticos nas salas de aula, evangelismo pessoal e discipulado com aqueles que se convertiam ao Senhor. Abaixo descrevo brevemente cada uma dessas atividades. Nós alcançamos 3 campus: o principal onde tinha a maioria dos cursos, o campi de medicina e o campi de engenharia.

Bruno (de preto) Meirinho (camiseta branca)
Quebra-Gelo – esse era o evento chave na universidade. Nós marcávamos um horário para estas programações e definíamos uma sala onde aconteceria, isso facilitava a divulgação nas salas onde avisávamos que nós teríamos uma programação divertida com uma mensagem importante para transmitir para os alunos. Nos quebra-gelos nós fazíamos peças, esquetes, tinha música, dinâmicas de grupo e a apresentação da mensagem de salvação. Distribuímos alguns CDs de áudio do Filme Jesus.

Impactos evangelísticos nas salas – em cada campus que íamos, nós pedíamos permissão para o professor do horário para passar a mensagem do Evangelho bem rapidamente, no final a gente anunciava o quebra-gelo e esperava que eles comparecessem.

Evangelismo pessoal – como o Alfa e Ômega é um ministério da Cruzada Estudantil nós usávamos muito o folheto das Quatro Leis Espirituais. Falei tanto que eu quase decorei o folheto inteiro, hehe. Apresentávamos o Evangelho com este material para os estudantes que abordávamos nos intervalos das aulas. Rapazes evangelizavam rapazes e moças evangelizavam moças, com raras exceções.

Eu, Meirinho e Humberto
Discipulado – com as pessoas que aceitavam a Cristo como seu Salvador, nós marcávamos alguns encontros durante a semana e iniciávamos o discipulado em grupos de 2, 3 ou 4 pessoas utilizando o material da Cruzada Estudantil. Eu aprendi muita coisa nestes discipulados, verdades fundamentais que eu já conhecia, mas não sabia explicar muito bem me foram elucidadas durante estes estudos bíblicos com os rapazes que discipulei. Foram eles: Meirinho, Claudio, Benefício, Eduardo, João, Zé Maria, Nelson, Rafael, Belilo, Sergio, Humberto.

Outras Atividades – também tivemos encontros regulares com alguns jovens fora da Universidade. Tivemos uma noite social com alguns rapazes, jogamos um jogo de cartas que não fazia o menor sentido para mim, e tomamos um suco tão cítrico que até hoje faço careta só de lembrar do sabor. Também tivemos vários encontros de treinamento de futuros líderes, quem dava as lições eram os missionários do nosso Projeto (o Nilson e o Bill). Outro dia tivemos uma palestra sobre música na igreja e eu dei um estudo bíblico sobre o assunto.

Em Maputo ficamos hospedados na Casa de Hospedagem da Irmã Evangeline, uma senhora muito simpática que se dedicou a receber e tratar muito bem os missionários em sua estalagem. (Anos antes, quando meus pais foram a Moçambique com a APEC, também ficaram hospedados ali). Abaixo descrevo um pouco das outras atividades que desenvolvemos fora do campus da Universidade Eduardo Mondlane.

Visita a Igrejas - Num dos primeiros domingos visitei a Igreja Assembléia de Deus da Matola, lá me ofereceram a oportunidade de trazer uma meditação bíblica. Eu estava muito influenciado pela leitura de “O Fator Melquisedeque” e falei sobre Gn 12.1-3 mostrando que as bênçãos que Deus nos dá devemos repassar para os outros e nãos retê-las para nós mesmos. Usei a ilustração da linha de cima e a linha de baixo que Don Richardson cita em seu livro para explicar essa idéia.
Paulo Negrão
Também visitei a Igreja Baptista de Malangalena onde conheci o lusitano Paulo Negrão e sua mãe que me explicaram a origem do nome Negrão.  Segundo ele os Negrãos vieram da região de Cantanhede em Portugal.
Firmei uma boa amizade com o Bruno, um moçambicano que tinha uma banda de rock. Ele freqüentava a Mozambique Internacional Christian Fellowship, e fomos um final de semana ali naquela igreja. O interessante é que ali só se falava em inglês, tanto a pregação quanto as músicas cantadas era tudo em inglês, até o estilo de culto era americano. Acredito que era uma igreja para missionários ocidentais. Participamos de uma tarde de programação com jovens e fomos na manhã de domingo. Lembro muito bem que, apesar de eu me sentir muito bem naquela igreja, por ter um estilo todo americano, pensei comigo mesmo que não era esse meu objetivo inicial de estar ali naquele país. Uma vez que eu estava lá, deveria estar freqüentando cultos em igrejas moçambicanas em sua essência.

Sara e Rapahel
Jossefa - APEC-MZ
Encontros inusitados alguns eventos eu não poderia deixar de postar aqui neste espaço. Em Belém fiz muitas amizades com os jovens da Comunidade Vinho Novo. Eu havia tomado conhecimento de que o Rapahel e a Sarah, grandes amigos meus e membros desta igreja, haviam se mudado para Moçambique trabalhando no norte do país como missionários. Justamente durante meus dias ali em Maputo, eles vieram de volta para o Brasil e se hospedaram no mesmo local onde eu estava. Que encontro maravilhoso. Passamos o restante da tarde conversando e atualizando os papos do Brasil em plena terra Moçambicana. Também encontrei ali o missionário Jossefa. Ele é missionário da APEC e foi fruto de uma viagem missionária que meus pais haviam feito com a APEC em setembro de 1999. Foi uma emoção muito grande poder encontrar pessoalmente com alguém de quem eu só ouvia falar e por quem orávamos constantemente em nossos cultos domésticos.

Lazer – como lazer tivemos diversos passeios. Certa noite saímos para passear no calçadão à beira mar. Antes de chegarmos na pizzaria onde iríamos lanchar fomos abordados por jovens repórteres da TV local querendo nos entrevistar, o tema da reportagem era a diferença entre Paixão e Amor. Alguns de nós demos as entrevistas. Agente tava se achando os turistas importantes, hahahaha. Também saímos para fazer compras de artesanato numa ferinha no centro de Maputo. Tentamos assistir a um concerto de música franco-brasileira, mas quando chegamos no local descobrimos que o concerto havia sido cancelado.

Eu e Érica
No final do mês, findando nosso projeto, saímos para um retiro na praia do Bilene que ficava pouco afastado da cidade. Ali tiramos o dia para descansar e almoçar num restaurante muito bom. Ao final do dia nos dirigimos ao hotel onde nos hospedamos aquele fim de semana e tivemos uma noite muito especial. Nos reunimos para avaliar nosso mês sondando pontos positivos e negativos, também tivemos um momento de lava-pés, onde cada um ficaria a vontade para lavar o pé de qualquer pessoa da equipe com quem teve desentendimentos ao longo do tempo. Enquanto lavávamos os pés uns dos outros nós pedíamos desculpa pelo nosso comportamento inadequado que tivemos para com o nosso irmão. Um verdadeiro exercício de humildade. Momento inesquecível.

Tocando no convívio de despedida
Um grupo de jovens universitários que ficou mais próximo de nós fez uma festa (ou convívio como eles chamam) de despedida pra gente. Todos foram convidados para a casa de um de nossos amigos, e ali comemos, rimos juntos, brincamos, eles oraram por nós e nos despedimos com uma grande alegria de poder ter feito amizades sinceras naquela cidade, e por ter impactado a vida de jovens de maneira positiva.

Muito mais coisa teria para ser dita desta viagem. Mas o que marcou foi a experiência de trabalho missionário transcultural, ainda que tenha sido por um breve período. As amizades que fiz ali. O Osmar foi alguém com quem me identifiquei bastante e tornou-se um grande amigo. Também fiz muita amizade com o Bruno e com o Meirinho, este último era um dos rapazes com quem fiz o discipulado. Gostaria de ter a oportunidade de entrar em contato com eles novamente. Lembro-me de ter escrito vários emails para um grupo de amigos durante meus dias ali em Moçambique, e uma das coisas que eu escrevia freqüentemente era que eu estava muito cansado de tanto trabalho que tinha pra fazer, mas era um cansaço que valia a pena, pois o resultado de tudo aquilo seria visto na Eternidade. Foi isso que me motivou a continuar trabalhando.
Osmar, Cintia e eu

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

EVANGELIZANDO NO CAMPUS (2002)

Durante meus anos na UEPA (Universidade do Estado do Pará) cursando Licenciatura em Música eu e mais dois colegas (o Américo e a Viviane) tivemos o desejo de fazer grupos de estudos bíblicos nos intervalos das aulas. Procuramos nos envolver com a ABU (Aliança Bíblica Universitária), mas nosso envolvimento com a ABU não teve um desenrolar tão produtivo quanto imaginávamos. Conhecemos então o Movimento Estudantil Alfa e Ômega (www.alfaeomega.org.br) que era um dos ministérios da Cruzada Estudantil e Profissional para Cristo. O objetivo do Alfa e Ômega era promover estudos bíblicos, quebra-gelos e impactos evangelísticos nas universidades.  E foi isso que fizemos durante vários meses na UEPA. Nós reuníamos alguns alunos cristãos nos intervalos livres para conversar sobre a Bíblia e orarmos juntos. Depois de um tempo alguns não cristãos se mostraram interessados em nossas reuniões e passaram a participar freqüentemente.
Tivemos um bom envolvimento com esta organização. Juntamos outros universitários de Belém que também eram envolvidos com este mesmo grupo em suas universidades e organizamos uma caravana para o Congresso Nacional do Alfa e Ômefa que aconteceu em Fortaleza. O tema do primeiro congresso que fomos era Conexão Direta. Que evento incrível. Eu nunca tinha visto tantos universitários cristãos juntos num só lugar, reunidos para louvar a Deus e aprender novos métodos de impactar sua universidade. O clima de descontração e alegria foi o que mais me impressionou, lá todo mundo era estranhamente livre para expressar sua alegria de modo muito próprio. O mais legal de tudo era que não virava bagunça nem algazarra, todos eram divertidos, alegres e livres, mas sempre comedidos. Gostei mesmo. 
Lembro até hoje da primeira pregação que tivemos. O pregador (infelizmente não lembro o seu nome) nos chamou a atenção para o fato de que o Cristianismo era a única religião em que a Divindade adorada saía em busca do homem. Ele comparou com o budismo, induismo, islamismo, espiritismo e afirmou que em nenhuma dessas outras religiões o deus procurava um relacionamento com o adorador. Somente o Cristianismo prega um Deus que se torna criatura e vai em busca da salvação do adorador.
Neste congresso foram divulgados o Projeto Macedônia. O objetivo deste projeto  era implantar o movimento em universidades que ainda não havia Alfa e Ômega. Ali ouvi falar do Projeto Moçambique e fiquei muito emocionado e extremamente motivado a ir. A viagem aconteceria em março do ano seguinte (2003) e era necessário levantar 2.000,00 dólares para o custo da viagem de 30 dias. Era um grande desafio, mas não pensei duas vezes. Voltei para Belém com o forte desejo de participar do Projeto Moçambique 2003 e com o fôlego renovado para o trabalho de estudos bíblicos no campus da UEPA onde eu estudava.

Sem dúvida este Congresso marcou a minha vida.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Como Deus me conduziu para o Ministério

Meus pais, Natanael e Enedina Negrão, foram missionários da APEC do Pará por muitos anos (atualmente estão trabalhando na APEC Nacional). Umas das suas práticas comuns de evangelismo é a Classe de Boas Novas. As crianças da vizinhança são reunidas para ouvir uma história bíblica, decorar versículos e aprender cânticos. Depois de cada dia é feito um apelo para quem quiser aceitar a Jesus como seu Salvador. Foi numa dessas Classes de Boas Novas que eu fiz minha decisão por Cristo. Eu estava com 6 anos, eu acho. (Rm 10.9,10 ; Mt 19.14)
O Senhor pode falar a uma criança, dirigir a sua vida usando até mesmo situações inusitadas que nunca acreditaríamos que pudesse ser Ele quem estivesse agindo; eis um exemplo interessante.
Eu tinha 11 anos de idade quando fui a um Acampamento Boas Novas da APEC em São Paulo. Lá muitas coisas me chamaram a atenção, inclusive uma garotinha loira. Ela era a filha de um dos missionários da APEC de São Paulo e sempre estava presente neste acampamento. Bem, ela realmente balançou meu coraçãozinho de pré-adolescente inconstante e, agora, apaixonado.
Dentre várias atividades deste acampamento a que mais marcou minha vida foi um jantar missionário. Essa noite o jantar foi em um local especial, haviam várias mesas espalhadas pelo auditório onde cada conselheiro sentaria com seus acampantes. O jantar foi servido e depois que todos estavam satisfeitos a tia contou uma história missionária (não lembro qual, só lembro daquela garota sentada em uma mesa bem próxima da tia – e bem longe de mim L) depois que terminou a história alguém fez um apelo para que quem quisesse ser missionário ficasse de pé, e advinha quem ficou de pé ???? Se você chutou “o Héber” errou. A loirinha se levantou lá na frente e eu – todo empolgado – também levantei só por causa dela. Para minha surpresa depois de ter dado uma rápida olhada pelo auditório ela sentou e eu fiquei lá... em pé... estático... pensando “porque ela sentou?”. O tio que havia feito o apelo chamou todos á frente para orar. E eu fui.
Essa é uma história de um adolescente que aceitou um grande desafio aparentemente só por causa de uma garota. Bem, a graça do Senhor me ajudou a honrar esse compromisso e eu nunca o desprezei. Sempre tive um grande temor em relação ás minhas promessas ao Senhor. A cada oportunidade que eu tinha (em congressos ou conferências missionárias) eu renovava esse compromisso. Cresci com essa mentalidade: “eu serei um missionário onde Deus quiser me enviar.” Só não sabia como. Entretanto Deus confirmava esse chamado cada vez mais, inclusive com passagens bíblicas (Jr 1. 5-9).
Quando estava terminando o Ensino Médio e precisava escolher o curso para prestar vestibular eu fiquei confuso. Nunca havia sonhado com nenhuma profissão (sempre quis ser missionário desde aquele acampamento). Já estava quase no final o meu curso de Violino no Conservatório da cidade, porém nunca havia pensado em seguir carreira como músico profissional. Cheguei até a pensar em largar esse curso, pois não estava me saindo muito bem e fiquei muito decepcionado comigo mesmo. Já tinha tomado minha decisão quando abri minha Bíblia em Mateus 7:6 e Deus me disse claramente: “Não deis aos cães o que é santo, nem lancei ante os porcos as vossas pérolas para que não as pisem com os pés e voltando-se vos dilacerem.” Foi uma grande revelação para mim. Assim que li essa passagem fiquei me perguntando “então como eu posso continuar com isso? eu preciso melhorar.” A resposta veio no versículo seguinte “pedi e dar-se-vos-á...”
Bem, eu realmente nunca havia pensado em que curso fazer no vestibular e em nenhuma profissão que eu poderia utilizar no campo. De uma coisa eu tinha certeza – queria ser missionário – mas trabalhando em que área? Essa era uma grande dúvida.
Nessa época houve uma conferência missionária no Instituto Missionário Palavra da Vida e o palestrante era um missionário-médico americano que servia na Angola. Ele pregou sobre o chamado de Moisés, quando ele mencionou a pergunta que Deus fez a Moisés – “ Que é isso que tens na mão?” (Ex 4.2) e a resposta de Moisés “um bordão” – eu entendi claramente o Senhor me fazendo essa mesma pergunta, e a única coisa que eu tinha em minhas mãos era a música. Então, mais uma etapa da minha caminhada havia se solucionado. Em 2001 eu ingressei na Universidade do Estado do Pará no curso de Licenciatura em Música.
Agora só faltava saber como eu usaria a música no campo missionário. Eu não fazia idéia até que comecei a fazer meu devocional usando um Guia de Oração Mundial organizado pela Operação Mobilização. No dia 03 desse livrinho eu li sobre os Etnomusicólogos da Wycliffe. Eles estudam a música nativa para comporem cânticos cristãos no estilo musical do povo tomando os devidos cuidados com as questões de associação e etc. Eu fiquei fascinado com o tipo de trabalho que esses missionários esquisitos faziam. Deus me deu uma certeza tão grande no coração que eu não tive mais dúvida alguma do que Deus queria para mim. Era exatamente isso que eu iria fazer: etnomusicologia - o que quer que isso fosse.
Comecei a procurar entre os missionários em várias conferências e eventos para saber mais sobre o assunto. Sempre perguntava para todos os palestrantes e preletores que eu ouvia: “você já ouviu falar de etnomusicologia?” Ou “você acha importante a etnomusicologia no campo missionário?” Tive muita ajuda e incentivos para continuar seguindo essa visão. De tanto conversar e perguntar eu descobri um missionário etnomusicólogo que já havia trabalhado no Brasil e agora era o coordenador desta área na sede internacional da Wycliffe: Tom Avery.  Comecei a me corresponder com ele por e-mail. Nossas conversas eram muito esporádicas, porém sempre muito produtivas e instrutivas.
Quando estava no último da faculdade (2004) elaborei minha monografia sobre música indígena e o povo que eu estava pesquisando era os Guajajara. Falei com o Tom que eu estava fazendo uma pesquisa no ramo da etnomusicologia. Ele gostou muito de saber e se dispôs a ajudar, uma vez que ele já conhecia o povo.
No final de 2005 eu lhe mandei um e-mail dizendo que gostaria muito de continuar meus estudos nos EUA com mestrado em Etnomusicologia e Missões. Ele me telefonou de lá para conversarmos sobre o assunto. Durante essa ligação ele me convidou para dar uma palestra no GCOMM (Global Consultation on Music and Mission) – um congresso internacional sobre música e missões – falando sobre música guajajara. Eu aceitei. Durante o mês de julho de 2006 estive em Minessota-EUA nesta conferência. Conheci muitas pessoas que usam a música no campo missionário e inclusive fui convidado a participar de uma associação de músicos missionários: ICE (International Concil of Ethnodoxologists) www.worldofworship.org, eles ainda não tinham um representante do Brasil e me chamaram. Somos um grupo que troca emails pedindo oração, tirando dúvidas, contando novidades sobre o nosso ministério: uso da música no campo missionário.
Até então eu queria ser um missionário etnomusicólogo, que trabalharia entre um povo específico, estudaria seu estilo musical e faria canções cristãs baseadas nesse estilo. Nessa conferência eu fui levado a pensar em algo maior e mais alto. A presidente do ICE, Robin Harris, me desafiou a ser alguém que mostraria a importância desse ministério de músico-missionário às agencias missionárias, seminários, e missionários brasileiros. Até então aqui no Brasil este não é visto como um ministério específico ou válido para ser usado no campo. É claro que eu não descarto a possibilidade de ficar alguns anos adquirindo experiência em campo missionário transcultural, mas a idéia é ampliar essa visão para que cada seminário e agência missionária do país possa ter seu time de músicos- missionários.
Por esse motivo eu iniciei meus estudos no mestrado em música da UFMG com ênfase em etnomusicologia. Um preparo acadêmico melhor e mais direcionado para essa área é uma ferramenta muito útil na aceitação de algo tão novo aqui no Brasil, útil também para saber como estudar a cultura musical de um povo. 
Hoje estou finalizando meu curso teológico e missiológico no Instituto Missionário Palavra da Vida. Deus me direcionou para estudar aqui e tem sido uma grande bênção ver como Deus age. Durante estes anos Ele não me deixou uma vez sequer sem respostas. Ele abriu as portas no momento exato em que eu precisava passar por elas, nem antes nem depois.
Foi durante este período de estudos aqui no IMPV que conheci a Sophia, minha noiva. Ela é de Recife e se mudou para Belém em agosto de 2008 com seus pais Sergio e Miriam Victalino que vieram para cá como missionários do Palavra da Vida Norte. Comecei me interessar pela Sophia   alguns meses depois que ela chegou, mas quando soube do seu desejo de servir a Deus como missionária fiquei com grandes esperanças, em outras palavras: apaixonei de vez !!!!
Hoje estamos caminhando juntos em direção ao nosso casamento em janeiro de 2011. Deus uniu nossos caminhos, uniu nossos objetivos ministeriais e está nos unindo como família. 
É sobre isso que este blog trata. Sobre a nossa caminhada (minha e da Sophia) como família e missionários a partir de 2011. (Mas até janeiro vou postar algumas coisas sobre como Deus abirdo as portas nos últimos 10 anos para que tudo isso acontecesse)
Sinto um grande prazer em servir a Deus e depender somente Dele.