No final do ano de 2005 recebi uma ligação de Tom Avery, um grande amigo que comecei a manter contato. Ele foi missionário etnomusicólogo na região norte do Brasil por muito tempo junto à Wycliffe Bible Translators. Meu primeiro contato com ele já foi descrito anteriormente aqui este espaço. Ele já havia trabalhado entre os índios canela e guajajara no Maranhão e quando ele soube que eu estava escrevendo uma monografia sobre música deste último grupo me convidou para falar sobre a música indígena na igreja guajajara no Global Consultation on Music and Missions que aconteceria em julho de 2006 e que ele estava na comissão de organização.
Até então eu só havia ouvido falar deste evento pela internet, e fiquei com muita vontade de participar algum dia, mas nunca imaginaria que Deus me daria a oportunidade de participar ativamente dando uma palestras. O GCoMM é um Congresso Internacional onde vários missionários atendem para discutir, trocar idéias, apresentar suas experiências de como tem realizado o trabalho de etnomusicologia e missões ao redor do mundo. Um acontecimento riquíssimo para quem tem interesse nesse tipo e ministério. E isso encaixava perfeitamente no que Deus tinha reservado para mim como missionário.
Em 2006 mudei para Belo Horizonte para iniciar meu Mestrado em Música na UFMG e ao mesmo tempo comecei a me preparar para a palestra que seria ministrada no GCoMM. Aquele ano o evento seria hospedado pela Bethel University em Minessota, EUA. Quando a data da viagem chegou, eu estava preparado, um tanto apavorado, mas seguro por ter que sair do país e me virar em inglês. Fui muito bem recebido pelos responsáveis que me indicaram o quarto onde eu ficaria hospedado. Até então eu nunca havia conhecido pessoalmente o Tom Avery, e estava ansioso para encontrá-lo.
Quando ele soube que eu havia chegado me procurou no hall do prédio principal onde eu estava, ainda tentando me achar. Que grande prazer foi vê-lo e conhecê-lo pessoalmente. Um senhor muito alegre e divertido, mas também muito inteligente que fez grandes feitos na área de música e missões no Brasil. Conversamos bastante tempo em português (era uma alívio falar minha língua depois de tentar entender o inglês) e ele me explicou melhor como seria a programação do congresso. Minha palestra seria em dois dias e ele iria traduzir o que iria falar para inglês, eu realmente não quis arriscar falar 1h direto em inglês.
Ele precisava continuar com alguns compromissos e resolvi me aventurar pelas salas e corredores daquela universidade. Consegui chegar ao refeitório e dando uma olhada bem geral para os presentes, observei um rosto que me era familiar, não porque eu o conhecia, mas porque era Brasileiro. Cheguei e perguntei se ele era brasileiro, e qual não foi minha surpresa quando ele respondeu afirmativamente se apresentando como Atilano Muradas. Eu já tinha ouvido falar dele, mas nunca o havia encontrado pessoalmente. Ele também foi convidado pelo Tom Avery para dar uma plenária ali. Gostei muito da sua companhia durante aqueles dias. Ele me apresentou também outro brasileiro que ali se encontrava: o maestro Wilson Faustini. Que honra conviver com estes irmãos durante aquela semana.
A abertura do congresso na primeira noite foi incrível. Quem nos dirigia nos momentos de cânticos era um grupo de música ética. Vários instrumentos de diversas partes do mundo, se unindo para levar-nos a louvar ao Senhor. Mas não era somente as nossas músicas que eram tocadas, a equipe era composta de missionários etnomusicólogos que conheciam a música do povo com os quais trabalham. Assim pudemos cantar músicas étnicas acompanhadas de instrumentos étnicos. Nada mais apropriado para um congresso que valoriza o uso das expressões musicais de cada povo para louvar a Deus. Além dessa magnífica experiência também fomos brindados com um concerto de órgão de tubos. Fomos levados a cantar o hino “Santo, Santo, Santo” ao som indescritível do órgão.
Chegou o dia da minha palestra. Abordei o tema sobre o uso da música indígena na igreja guajajara e alguns problemas que resultaram desse uso. Preparei um Power Point para apresentar e tive a ajuda de uma grande amiga, a Esther, para revisar a tradução para o inglês. Tom Avery traduziu toda a minha palestra para o inglês, sendo que no momento de perguntas e debates eu pude entender bem o que era perguntado e respondia em inglês sem muitas dificuldades. Você pode verificar a lista das palestras oferecidas na ocasião neste site. Minha parte está no final da página em “Overcome Obstacles”.
Esse evento foi importantes também para muitos encontros que tive. Além dos grande representantes da música brasileira João Wilson Faustini e Atilano muradas, que me alegrei muito em encontrar, também conheci os queridos John e Kristina Henry, missionário no Panamá (The Nations Will worship), Bill e Robin Harris (ICE), Chris Hale (www.aradhnamusic.com), Jo Ann Richards (Trinidad e Tobag), Rosh (Camarões), Paul Stock (missionário no Nepal), Tom Fergunson (missionário na Asia), Benjamin Carstens e sua esposa (Alemanha).
Uma das grandes vantagens em participar desse encontro foram os contatos que pude fazer com outros missionários da mesma área que eu. Um contato em especial quero destacar aqui. Robin Harris, uma das organizadoras do GCoMM, havia iniciado alguns anos antes o International Council of Ethnodoxologists [ICE]. O objetivo desse grupo é “encorajar cristãos em cada cultura a expressar sua fé através da música do seu coração e através de suas artes culturais.” O ICE promove uma rede de relacionamento online através de emails, recursos para missionários usarem no uso e pesquisa da música indígena e documentos acadêmicos sobre etnomusicologia, missiologia e adoração.
Tendo me explicado isso, Robin me convidou para participar do ICE como representante do Brasil que até então não havia. Ela disse que o ICE estava precisando de pessoas, líderes em potencial que pudessem divulgar a importância do ministério de Música e Missões. Isso foi particularmente importante para mim, pois Deus começou a me mostrar que eu poderia fazer muito mais aqui no Brasil do que somente morar num contexto transcultural, estudar a música do povo e compor um hinário indígena para a igreja nativa. Ele estava abrindo minha visão para trabalhar com ensino e conscientização dos missionários, agências missionárias, cristãos indígenas brasileiros mostrando-lhes a importância de usarem as músicas do próprio povo com o qual trabalham para levá-los a louvar a Deus de maneira muito própria culturalmente.
Os frutos desse congresso já podem ser contados. Por fazer parte do ICE eu posso estar em contato com vários missionários ao redor do mundo que trabalham no mesmo ministério que eu. Já fui diversas vezes auxiliado por estes missionários quando precisei fazer viagens de pesquisa sobre música indígena. Já fui indicado para vários eventos missionários nacionais e internacionais que envolviam o ministério de música transcultural (alguns dos quais ainda vou comentar neste espaço). Essa foi uma porta que Deus abriu e ao entrar por ela, muitas outras portas tem me sido abertas. Vamos em frente.