quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Como Deus me conduziu para o Ministério

Meus pais, Natanael e Enedina Negrão, foram missionários da APEC do Pará por muitos anos (atualmente estão trabalhando na APEC Nacional). Umas das suas práticas comuns de evangelismo é a Classe de Boas Novas. As crianças da vizinhança são reunidas para ouvir uma história bíblica, decorar versículos e aprender cânticos. Depois de cada dia é feito um apelo para quem quiser aceitar a Jesus como seu Salvador. Foi numa dessas Classes de Boas Novas que eu fiz minha decisão por Cristo. Eu estava com 6 anos, eu acho. (Rm 10.9,10 ; Mt 19.14)
O Senhor pode falar a uma criança, dirigir a sua vida usando até mesmo situações inusitadas que nunca acreditaríamos que pudesse ser Ele quem estivesse agindo; eis um exemplo interessante.
Eu tinha 11 anos de idade quando fui a um Acampamento Boas Novas da APEC em São Paulo. Lá muitas coisas me chamaram a atenção, inclusive uma garotinha loira. Ela era a filha de um dos missionários da APEC de São Paulo e sempre estava presente neste acampamento. Bem, ela realmente balançou meu coraçãozinho de pré-adolescente inconstante e, agora, apaixonado.
Dentre várias atividades deste acampamento a que mais marcou minha vida foi um jantar missionário. Essa noite o jantar foi em um local especial, haviam várias mesas espalhadas pelo auditório onde cada conselheiro sentaria com seus acampantes. O jantar foi servido e depois que todos estavam satisfeitos a tia contou uma história missionária (não lembro qual, só lembro daquela garota sentada em uma mesa bem próxima da tia – e bem longe de mim L) depois que terminou a história alguém fez um apelo para que quem quisesse ser missionário ficasse de pé, e advinha quem ficou de pé ???? Se você chutou “o Héber” errou. A loirinha se levantou lá na frente e eu – todo empolgado – também levantei só por causa dela. Para minha surpresa depois de ter dado uma rápida olhada pelo auditório ela sentou e eu fiquei lá... em pé... estático... pensando “porque ela sentou?”. O tio que havia feito o apelo chamou todos á frente para orar. E eu fui.
Essa é uma história de um adolescente que aceitou um grande desafio aparentemente só por causa de uma garota. Bem, a graça do Senhor me ajudou a honrar esse compromisso e eu nunca o desprezei. Sempre tive um grande temor em relação ás minhas promessas ao Senhor. A cada oportunidade que eu tinha (em congressos ou conferências missionárias) eu renovava esse compromisso. Cresci com essa mentalidade: “eu serei um missionário onde Deus quiser me enviar.” Só não sabia como. Entretanto Deus confirmava esse chamado cada vez mais, inclusive com passagens bíblicas (Jr 1. 5-9).
Quando estava terminando o Ensino Médio e precisava escolher o curso para prestar vestibular eu fiquei confuso. Nunca havia sonhado com nenhuma profissão (sempre quis ser missionário desde aquele acampamento). Já estava quase no final o meu curso de Violino no Conservatório da cidade, porém nunca havia pensado em seguir carreira como músico profissional. Cheguei até a pensar em largar esse curso, pois não estava me saindo muito bem e fiquei muito decepcionado comigo mesmo. Já tinha tomado minha decisão quando abri minha Bíblia em Mateus 7:6 e Deus me disse claramente: “Não deis aos cães o que é santo, nem lancei ante os porcos as vossas pérolas para que não as pisem com os pés e voltando-se vos dilacerem.” Foi uma grande revelação para mim. Assim que li essa passagem fiquei me perguntando “então como eu posso continuar com isso? eu preciso melhorar.” A resposta veio no versículo seguinte “pedi e dar-se-vos-á...”
Bem, eu realmente nunca havia pensado em que curso fazer no vestibular e em nenhuma profissão que eu poderia utilizar no campo. De uma coisa eu tinha certeza – queria ser missionário – mas trabalhando em que área? Essa era uma grande dúvida.
Nessa época houve uma conferência missionária no Instituto Missionário Palavra da Vida e o palestrante era um missionário-médico americano que servia na Angola. Ele pregou sobre o chamado de Moisés, quando ele mencionou a pergunta que Deus fez a Moisés – “ Que é isso que tens na mão?” (Ex 4.2) e a resposta de Moisés “um bordão” – eu entendi claramente o Senhor me fazendo essa mesma pergunta, e a única coisa que eu tinha em minhas mãos era a música. Então, mais uma etapa da minha caminhada havia se solucionado. Em 2001 eu ingressei na Universidade do Estado do Pará no curso de Licenciatura em Música.
Agora só faltava saber como eu usaria a música no campo missionário. Eu não fazia idéia até que comecei a fazer meu devocional usando um Guia de Oração Mundial organizado pela Operação Mobilização. No dia 03 desse livrinho eu li sobre os Etnomusicólogos da Wycliffe. Eles estudam a música nativa para comporem cânticos cristãos no estilo musical do povo tomando os devidos cuidados com as questões de associação e etc. Eu fiquei fascinado com o tipo de trabalho que esses missionários esquisitos faziam. Deus me deu uma certeza tão grande no coração que eu não tive mais dúvida alguma do que Deus queria para mim. Era exatamente isso que eu iria fazer: etnomusicologia - o que quer que isso fosse.
Comecei a procurar entre os missionários em várias conferências e eventos para saber mais sobre o assunto. Sempre perguntava para todos os palestrantes e preletores que eu ouvia: “você já ouviu falar de etnomusicologia?” Ou “você acha importante a etnomusicologia no campo missionário?” Tive muita ajuda e incentivos para continuar seguindo essa visão. De tanto conversar e perguntar eu descobri um missionário etnomusicólogo que já havia trabalhado no Brasil e agora era o coordenador desta área na sede internacional da Wycliffe: Tom Avery.  Comecei a me corresponder com ele por e-mail. Nossas conversas eram muito esporádicas, porém sempre muito produtivas e instrutivas.
Quando estava no último da faculdade (2004) elaborei minha monografia sobre música indígena e o povo que eu estava pesquisando era os Guajajara. Falei com o Tom que eu estava fazendo uma pesquisa no ramo da etnomusicologia. Ele gostou muito de saber e se dispôs a ajudar, uma vez que ele já conhecia o povo.
No final de 2005 eu lhe mandei um e-mail dizendo que gostaria muito de continuar meus estudos nos EUA com mestrado em Etnomusicologia e Missões. Ele me telefonou de lá para conversarmos sobre o assunto. Durante essa ligação ele me convidou para dar uma palestra no GCOMM (Global Consultation on Music and Mission) – um congresso internacional sobre música e missões – falando sobre música guajajara. Eu aceitei. Durante o mês de julho de 2006 estive em Minessota-EUA nesta conferência. Conheci muitas pessoas que usam a música no campo missionário e inclusive fui convidado a participar de uma associação de músicos missionários: ICE (International Concil of Ethnodoxologists) www.worldofworship.org, eles ainda não tinham um representante do Brasil e me chamaram. Somos um grupo que troca emails pedindo oração, tirando dúvidas, contando novidades sobre o nosso ministério: uso da música no campo missionário.
Até então eu queria ser um missionário etnomusicólogo, que trabalharia entre um povo específico, estudaria seu estilo musical e faria canções cristãs baseadas nesse estilo. Nessa conferência eu fui levado a pensar em algo maior e mais alto. A presidente do ICE, Robin Harris, me desafiou a ser alguém que mostraria a importância desse ministério de músico-missionário às agencias missionárias, seminários, e missionários brasileiros. Até então aqui no Brasil este não é visto como um ministério específico ou válido para ser usado no campo. É claro que eu não descarto a possibilidade de ficar alguns anos adquirindo experiência em campo missionário transcultural, mas a idéia é ampliar essa visão para que cada seminário e agência missionária do país possa ter seu time de músicos- missionários.
Por esse motivo eu iniciei meus estudos no mestrado em música da UFMG com ênfase em etnomusicologia. Um preparo acadêmico melhor e mais direcionado para essa área é uma ferramenta muito útil na aceitação de algo tão novo aqui no Brasil, útil também para saber como estudar a cultura musical de um povo. 
Hoje estou finalizando meu curso teológico e missiológico no Instituto Missionário Palavra da Vida. Deus me direcionou para estudar aqui e tem sido uma grande bênção ver como Deus age. Durante estes anos Ele não me deixou uma vez sequer sem respostas. Ele abriu as portas no momento exato em que eu precisava passar por elas, nem antes nem depois.
Foi durante este período de estudos aqui no IMPV que conheci a Sophia, minha noiva. Ela é de Recife e se mudou para Belém em agosto de 2008 com seus pais Sergio e Miriam Victalino que vieram para cá como missionários do Palavra da Vida Norte. Comecei me interessar pela Sophia   alguns meses depois que ela chegou, mas quando soube do seu desejo de servir a Deus como missionária fiquei com grandes esperanças, em outras palavras: apaixonei de vez !!!!
Hoje estamos caminhando juntos em direção ao nosso casamento em janeiro de 2011. Deus uniu nossos caminhos, uniu nossos objetivos ministeriais e está nos unindo como família. 
É sobre isso que este blog trata. Sobre a nossa caminhada (minha e da Sophia) como família e missionários a partir de 2011. (Mas até janeiro vou postar algumas coisas sobre como Deus abirdo as portas nos últimos 10 anos para que tudo isso acontecesse)
Sinto um grande prazer em servir a Deus e depender somente Dele.