terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

GCoMM [2006]

No final do ano de 2005 recebi uma ligação de Tom Avery, um grande amigo que comecei a manter contato. Ele foi missionário etnomusicólogo na região norte do Brasil por muito tempo junto à Wycliffe Bible Translators. Meu primeiro contato com ele já foi descrito anteriormente aqui este espaço. Ele já havia trabalhado entre os índios canela e guajajara no Maranhão e quando ele soube que eu estava escrevendo uma monografia sobre música deste último grupo me convidou para falar sobre a música indígena na igreja guajajara no Global Consultation on Music and Missions que aconteceria em julho de 2006 e que ele estava na comissão de organização.
Até então eu só havia ouvido falar deste evento pela internet, e fiquei com muita vontade de participar algum dia, mas nunca imaginaria que Deus me daria a oportunidade de participar ativamente dando uma palestras. O GCoMM é um Congresso Internacional onde vários missionários atendem para discutir, trocar idéias, apresentar suas experiências de como tem realizado o trabalho de etnomusicologia e missões ao redor do mundo. Um acontecimento riquíssimo para quem tem interesse nesse tipo e ministério. E isso encaixava perfeitamente no que Deus tinha reservado para mim como missionário.
Em 2006 mudei para Belo Horizonte para iniciar meu Mestrado em Música na UFMG e ao mesmo tempo comecei a me preparar para a palestra que seria ministrada no GCoMM. Aquele ano o evento seria hospedado pela Bethel University em Minessota, EUA. Quando a data da viagem chegou, eu estava preparado, um tanto apavorado, mas seguro por ter que sair do país e me virar em inglês. Fui muito bem recebido pelos responsáveis que me indicaram o quarto onde eu ficaria hospedado. Até então eu nunca havia conhecido pessoalmente o Tom Avery, e estava ansioso para encontrá-lo.
Quando ele soube que eu havia chegado me procurou no hall do prédio principal onde eu estava, ainda tentando me achar. Que grande prazer foi vê-lo e conhecê-lo pessoalmente. Um senhor muito alegre e divertido, mas também muito inteligente que fez grandes feitos na área de música e missões no Brasil. Conversamos bastante tempo em português (era uma alívio falar minha língua depois de tentar entender o inglês) e ele me explicou melhor como seria a programação do congresso. Minha palestra seria em dois dias e ele iria traduzir o que iria falar para inglês, eu realmente não quis arriscar falar 1h direto em inglês.
Ele precisava continuar com alguns compromissos e resolvi me aventurar pelas salas e corredores daquela universidade. Consegui chegar ao refeitório e dando uma olhada bem geral para os presentes, observei um rosto que me era familiar, não porque eu o conhecia, mas porque era Brasileiro. Cheguei e perguntei se ele era brasileiro, e qual não foi minha surpresa quando ele respondeu afirmativamente se apresentando como Atilano Muradas. Eu já tinha ouvido falar dele, mas nunca o havia encontrado pessoalmente. Ele também foi convidado pelo Tom Avery para dar uma plenária ali. Gostei muito da sua companhia durante aqueles dias. Ele me apresentou também outro brasileiro que ali se encontrava: o maestro Wilson Faustini. Que honra conviver com estes irmãos durante aquela semana.
A abertura do congresso na primeira noite foi incrível. Quem nos dirigia nos momentos de cânticos era um grupo de música ética. Vários instrumentos de diversas partes do mundo, se unindo para levar-nos a louvar ao Senhor. Mas não era somente as nossas músicas que eram tocadas, a equipe era composta de missionários etnomusicólogos que conheciam a música do povo com os quais trabalham. Assim pudemos cantar músicas étnicas acompanhadas de instrumentos étnicos. Nada mais apropriado para um congresso que valoriza o uso das expressões musicais de cada povo para louvar a Deus. Além dessa magnífica experiência também fomos brindados com um concerto de órgão de tubos. Fomos levados a cantar o hino “Santo, Santo, Santo” ao som indescritível do órgão.
Chegou o dia da minha palestra. Abordei o tema sobre o uso da música indígena na igreja guajajara e alguns problemas que resultaram desse uso. Preparei um Power Point para apresentar e tive a ajuda de uma grande amiga, a Esther, para revisar a tradução para o inglês. Tom Avery traduziu toda a minha palestra para o inglês, sendo que no momento de perguntas e debates eu pude entender bem o que era perguntado e respondia em inglês sem muitas dificuldades.  Você pode verificar a lista das palestras oferecidas na ocasião neste site. Minha parte está no final da página em “Overcome Obstacles”.
Esse evento foi importantes também para muitos encontros que tive. Além dos grande representantes da música brasileira João Wilson Faustini e Atilano muradas, que me alegrei muito em encontrar, também conheci os queridos John e Kristina Henry, missionário no Panamá (The Nations Will worship), Bill e Robin Harris (ICE), Chris Hale (www.aradhnamusic.com), Jo Ann Richards (Trinidad e Tobag), Rosh (Camarões), Paul Stock (missionário no Nepal), Tom Fergunson (missionário na Asia), Benjamin Carstens e sua esposa (Alemanha).
Uma das grandes vantagens em participar desse encontro foram os contatos que pude fazer com outros missionários da mesma área que eu. Um contato em especial quero destacar aqui. Robin Harris, uma das organizadoras do GCoMM, havia iniciado alguns anos antes o International Council of Ethnodoxologists [ICE]. O objetivo desse grupo é “encorajar cristãos em cada cultura a expressar sua fé através da música do seu coração e através de suas artes culturais.” O ICE promove uma rede de relacionamento online através de emails, recursos para missionários usarem no uso e pesquisa da música indígena e documentos acadêmicos sobre etnomusicologia, missiologia e adoração.
Tendo me explicado isso, Robin me convidou para participar do ICE como representante do Brasil que até então não havia. Ela disse que o ICE estava precisando de pessoas, líderes em potencial que pudessem divulgar a importância do ministério de Música e Missões. Isso foi particularmente importante para mim, pois Deus começou a me mostrar que eu poderia fazer muito mais aqui no Brasil do que somente morar num contexto transcultural, estudar a música do povo e compor um hinário indígena para a igreja nativa. Ele estava abrindo minha visão para trabalhar com ensino e conscientização dos missionários, agências missionárias, cristãos indígenas brasileiros mostrando-lhes a importância de usarem as músicas do próprio povo com o qual trabalham para levá-los a louvar a Deus de maneira muito própria culturalmente.
Os frutos desse congresso já podem ser contados. Por fazer parte do ICE eu posso estar em contato com vários missionários ao redor do mundo que trabalham no mesmo ministério que eu. Já fui diversas vezes auxiliado por estes missionários quando precisei fazer viagens de pesquisa sobre música indígena. Já fui indicado para vários eventos missionários nacionais e internacionais que envolviam o ministério de música transcultural (alguns dos quais ainda vou comentar neste espaço). Essa foi uma porta que Deus abriu e ao entrar por ela, muitas outras portas tem me sido abertas. Vamos em frente.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O Alvorecer num Belo Horizonte [2006-2007]

Eu tinha um alvo a ser alcançado, alvo este que me ajudaria no meu ministério: eu queria estudar etnomusicologia para poder servir a Deus como missionário no campo transcultural, algo já descrito aqui neste espaço com mais detalhes. Para isso era necessário primeiro fazer uma universidade, de preferência em música, para então estudar etnomusicologia num curso de pós-graduação, uma vez que este ainda não tinha a nível de graduação. Foi o que aconteceu, em 2004 me formei em Licenciatura em Música pela Universidade do Estado do Pará e passei o ano de 2005 trabalhando como professor de violino. No final deste ano eu me inscrevi para o mestrado em música em duas universidades federais: UFMG e UFPB.

Em novembro de 2005 fui a Belo Horizonte presta o exame de admissão e depois de alguns dias de prova fui até a sala da minha possível orientadora e conversei com ela sobre as chances de eu estudar ali. Ela deu um telefonema rápido para saber in off  o resultado das provas de admissão do mestrado e depois que desligou ela me disse “olha, você passou. Está aprovado no mestrado.” Até hoje eu lembro do sorriso que expressei ao ouvir estas palavras.

Foram dois anos de muitos estudos, leituras e exercícios mentais para eu finalmente compor minha obra de conclusão de curso, a tão sonhada dissertação. O tema que abordei foi “A Música na Mitologia Tenetehara” falando sobre a presença musical no universo mitológico dos índios guajajara. Precisei ler muitas produções acadêmicas, muitos livros de antropologia e etnomusicologia. Foi um esforço muito árduo, eu parecia não dominar as técnicas e os vocabulários empregados pelos professores. Logo no começo dos estudos fui confortado com um versículo no livro de Daniel: “A esses quatro jovens Deus deu sabedoria e inteligência para conhecerem todos os aspectos da cultura e da ciência”(Dn 1.17) . Era exatamente isso que eu precisava, ter domínio sobre a ciência e a cultura dos homens. Não ouso dizer que eu estava na mesma situação que Daniel, mas me identifiquei muito com ele por estar lidando com algo completamente novo e com pessoas que estavam muito mais adiantadas do que eu nesses estudos. Nos últimos meses eu que eu me dedicava exclusivamente a elaboração da dissertação também fui confortado por Deus quando lia o livro de Gênesis “O Senhor, a quem tenho servido, enviará seu anjo com você e coroará de êxito a sua missão” (24.40).

Deus não só coroou de êxito minha missão como também me fez descansar nele ao longo dessa jornada. Em abril de 2008, eu já estava estudando no Instituto Missionário Palavra da Vida, e estava terminando de escrever a minha dissertação. Vim para Belo Horizonte para defender o que eu havia estudado, alguns amigos estiveram presentes naquele momento, inclusive meu pai que veio de Atibaia para BH para me dar o suporte que eu precisava naquele momento. O resumo de tudo é que a dissertação foi defendida, avaliada pelos examinadores que após deliberarem me chamaram na sala. O resultado foi que eu havia sido aprovado mas, que ainda precisava fazer algumas pequenas correções na dissertação.

Durante os anos que morei em Belo Horizonte freqüentei a 6ª Igreja Presbiteriana. Aquela família me recebeu com os braços abertos. O primeiro contato mais profundo que tive com aqueles irmãos foi no acampamento de carnaval de 2008, eu havia acabado de chegar na cidade e fui participar da programação ali. Fiz grandes amizades e os relacionamentos se tornaram mais profundos com a convivência.

Ali na igreja participei ativamente do grupo de jovens, do coral, da equipe de músicas e do grupo Ânima. Foi um tempo de grande alegria, satisfação e também de algumas boas tristezas. Alguns amigos foram particularmente importantes para o meu crescimento pessoal. Fiz questão de adicioná-los na secção “agradecimentos” da minha dissertação que segue abaixo, na íntegra:

Como entender sobre as sociedades humanas e suas histórias sem admitir a existência de uma mente por detrás de tanta diversidade organizando e encaixando todos os detalhes em seu devido lugar? É a este Ser Supremo e Criador de todas as coisas que deixou um resquício da eternidade no coração do homem que o torna incapaz de compreender tudo ao seu redor e incapaz de entender as perfeições das relações humanas, eternidade essa que só pode ser preenchida por alguém do tamanho da eternidade. É a este Deus que dedico esta obra; a quem agradeço e ofereço minhas primeiras palavras de gratidão.
 Também devo grande parte dos meus esforços para a conclusão deste curso aos meus pais Natanael e Enedina Negrão. Além de grandes incentivadores, grandes alicerces. Além de grandes colaboradores, grandes amigos. Além de grandes parceiros, grandes guias que me conduziram por um “caminho sobremodo excelente” e estiveram ao meu lado até aqui. Vocês foram imprescindíveis para que eu alcançasse esta vitória. Este título é nosso. Amo vocês. E aos meus irmãos, Susie e Joás Negrão, que estiveram perto, mesmo distante geograficamente, e juntos nesta causa, mesmo em cidades separadas. Obrigado por poder contar com vocês.
À professora Rosangela que com tanta resiliência e firmeza conduziu minha mentalidade, minhas idéias e meus novos conhecimentos para um objetivo muito maior que uma simples conclusão de curso ou término de uma dissertação, conduziu para um universo maior que a academia. Você me levou a enxergar a amplidão do mundo e suas diversidades com olhos desvendados e a considerar a variedade desta diversidade como algo singular. Um simples obrigado não basta para agradecer o tanto que você batalhou para me ajudar a alcançar este objetivo. Ainda assim... MUITO OBRIGADO.
É impressionante como o ser humano é um ser relacional. Não há o que ele faça que não esteja acompanhado de outros. Às muitas pessoas que estiveram ao meu lado enquanto morava em Belo Horizonte, vai meu último, porém não menos importante, obrigado. A cada família, a cada amigo, a cada pessoa que esteve ao me lado nestes anos eu agradeço de coração. Aos membros da 6ª Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte e aos membros da família da APEC de Minas Gerais, dedico um agradecimento muito especial. Cada vez mais eu me convenço de que Deus coloca em nossas vidas pessoas que nos ajudem a trilhar o caminho certo e vocês foram essas pessoas. Fizeram isso cada vez que falaram algo que eu não queria (mas precisava) ouvir, que me alertaram quando havia algo duvidoso por onde eu estava caminhando.
Vocês foram verdadeiros ribeiros de água me dando Ânimo nos momentos difíceis em que precisava de auxílio e duras cunhas de ferro nos momentos fáceis quando eu precisava de exortação. Agradeço muito a Deus por ter colocado vocês em meu caminho e conduzido meu caminho até vocês. Através dElle vocês puderam me abençoar e por serem francos comigo eu fui cappaz de crescer em caráter. Estou feliz por ter concluído esta jornada, mas não conseguiria sem bons amigos como vocês. 
Soli Deo Gloria